domingo, 10 de maio de 2009

Selecção de um Recurso Computacional Aberto (RCA)

Para suportar a remodelação da disciplina "Tecnologias de Informação (TI)" do 2º ano do Curso de Gestão do ISEG (a primeira sobre TI no curso), pesquisámos no OCW - OpenCourseware e seleccionámos (pelos motivos a seguir explicitados) dois REA, ambos do MIT Open Courseware e da Sloan School of Management: a base será o Information Technology Essentials a que vamos juntar um módulo do Information Technology I.

No âmbito da nossa disciplina já tivémos várias aproximações aos objectivos e correspondente programa. Também já analisámos os programas de disciplinas equivalentes noutros cursos de gestão em Portugal, que também não convencem...

A pergunta é sempre a mesma: o que deve um futuro gestor saber de sistemas e tecnologias de informação (SI/TI) para desempenhar a sua profissão?

Até já pensámos fazer um estudo empírico que, através de um inquérito, questionasse os Directores de SI/TI do nosso país sobre esta questão. Temos duas disciplinas, a de TI no 1º semestre do 2º ano e a de Sistemas de Informação para a Gestão no 2º semestre do mesmo ano, que têm obviamente de se complementar.

Os últimos objectivos definidos para a disciplina de TI foram os seguintes:

  1. Dominar os conceitos fundamentais de sistemas e tecnologias de informação;
  2. Compreender os métodos e técnicas de desenvolvimento de software, análise de sistemas de informação e concepção de bases de dados;
  3. Utilizar sistemas de gestão de bases de dados para obter informação de gestão.


Para seleccionar um REA a utilizar na disciplina de TI, tivemos em consideração, numa primeira abordagem, os seguintes critérios:

  1. Adequação dos conteúdos disponibilizados aos objectivos e áreas programáticas da disciplina - Em conjunto, os dois REA do MIT Open Courseware cumprem o pretendido;

  2. Certificação de Qualidade do REA - Como, a nosso conhecimento, a única das três formas de certificação da qualidade (ver o nosso post anterior) disponível é a assegurada pela Instituição que disponibiliza o recurso, pelo que pesquisámos disciplinas de TI em boas Business Schools. Os mais adequados que encontrámos foram os do MIT;

  3. Actualidade dos REAs - O Information Technology Essentials é de 2005 e o Information Technology I de 2003. Só por falta de financiamento se pode entender que cursos de Tecnologias da Informação não sejam revistos anualmente (como deveriam). Vamos ter de os actualizar, quando fôr caso disso;

  4. Qualidade Técnica e Pedagógica do REA - Apesar da qualidade ser certificada pelo MIT, entendemos que uma equipa de uma disciplina (o actual trabalho é individual, mas no caso concreto vamos analisar e discutir em equipa) deve avaliar técnica e pedagogicamente os materiais. Foi o que agora fizémos e, com mais ou menos adaptações, os dois recursos seleccionados parecem, deste ponto de vista, adequados;
  5. Tipos de Materiais Disponibilizados - Que tipos de materiais são disponibilizados? No nosso caso as disciplinas são disponibilizadas de forma bastante completa, contemplando syllabus, calendarização, bibliografia, slides, trabalhos e exames.

  6. Disponibilidade da tradução portuguesa - É sempre um factor a considerar. Apesar de existirem vários REA da Sloan School of Management em português (do Brasil), esse não é o caso dos que seleccionámos. Vamos ter de reflectir sobre se os traduzimos ou pura e simplesmente os apresentamos em inglês. De qualquer forma, devido à participação de alunos Erasmus, leccionamos sempre uma turma em inglês.

Entendemos utilizar fundamentalmente o Information Technology Essentials que, tal como a nossa disciplina, é introdutório às Tecnologias da Informação num curso de Gestão. Vamos introduzir-lhe o módulo "Relational Database Design" (que aliás actualmente leccionamos) da disciplina também introdutória Information Technology I e, por agora retirar o módulo "Computer Security I: Encryption and Digital Signatures" que, apesar de importante é, numa primeira abordagem, prescindível.

Este "figurino" diminui drasticamente o nosso 2º objectivo atrás enunciado (sobre o qual aliás já tinhamos algumas dúvidas), que só passará a contemplar, de forma simplificada, a "concepção de bases de dados". Por outro lado reforça, e bem, o 1º objectivo com o módulo "Business Intelligence: Data Mining and Data Warehousing".

A disciplina ficaria desse modo, com os seguintes módulos (todos oriundos da disciplina Information Technology Essentials , excepto o módulo expressamente assinalado):


1 Introduction: Information Technology Essentials
The Technology
2
Fundamentals of Computing
3 Networks I
4
Networks II
5
Programming Languages
6 Relational Databases
7
Introduction to Microsoft® Access
8 Relational Database Design (do curso Information Technology I)
9 Web Technologies Fundamentals
10 Computer Security II: Network Security

Applications of Technology
11
"Under the Hood" of a Commercial Website
12
Managing Software Development
13
Enterprise Systems
14 Systems that Span Multiple Enterprises
15 Business Intelligence: Data Mining and Data Warehousing
16
Emerging Technologies; Course Wrap-up

Estes 16 módulos terão de ser planeados para 24 aulas ( nº médio de aulas por semestre ).

Actualmente, a nossa avaliação contínua é composta por 3 componentes: participação nas aulas, dois testes e um trabalho de grupo.
No MIT consideram também a participação nas aulas e três trabalhos de grupo, dos quais o 1º tem por objectivo a criação de um site, o 2º a criação de uma base de dados Access (como o nosso trabalho) e o 3º a operacionalização de um inquérito online no site, com o armazenamento dos dados em Access.
Achámos muito interessante eles exigirem a criação de um site e utilizarem-no, tal como o Access, para a realização de um inquérito online. Parece uma boa ideia que vamos ter de explorar e discutir.

Durante o curso de eLearning já nos tinhamos lembrado de preparar um trabalho de grupo que contemplasse a construção de um site, mas a ideia de juntar o site com o armezamento em Access parece realmente interessante.

Para terminar:

  • Este trabalho sobre REAs induziu-nos a fazer um benchmarking internacional da nossa disciplina. Isso acabou por ser de grande utilidade e vai ter seguramente algumas consequências, dependentes da nossa capacidade de motivar a equipa;
  • Numa primeira análise substituiríamos praticamente todo o nosso material pelo disponibilizado pelo MIT, por duas razões:
  1. Comparado com o do MIT, o nosso material de suporte, que tem indiscutivelmente qualidade, é muito mais teórico, provavelmente sem grande valor acrescentado para o aluno. Está muito mais orientado para ensinar conhecimentos do que competências. Com o material do MIT acontece exactamente o contrário;
  2. O nosso objectivo "Compreender os métodos e técnicas de desenvolvimento de software, análise de sistemas de informação e concepção de bases de dados" tem subjacente a ideia de formar gestores que sejam capazes de ser utilizadores empenhados em projectos de desenvolvimento ou costumização de software. A ideia continua a ser boa, mas será necessário ensinar-lhes toda uma parafernália de técnicas que eles não se sentem motivados a aprender? Os do MIT simplificaram e ensinam apenas "Concepção de Bases de Dados" (o mais importante) sem grande envolvente teórica. Provavelmente têm razão! É a eficácia Americana...


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Open Educational Resources: Potencialidades, Oportunidades, Riscos e Desafios


Open Educational Resources (Recursos Computacionais Abertos)


A designação Open Educational Resources (OER) foi adoptada numa reunião da UNESCO em 2002 para designar a disponibilidade de recursos educacionais "abertos", permitida pelas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), para consulta, utilização e adaptação pela comunidade de utilizadores, para objectivos não comerciais.

The Open Courseware concept is based on the philosophical view of knowledge as a collective social product and so it is also desirable to make it a social property. - V. S. Prasad, Vice-Chancellor - Dr. B. R. Ambedkar Open University, India

Mais recentemente a OCDE definiu os OER como "produtos digitalizados oferecidos de uma forma livre e aberta a professores, estudantes e autodidactas para utilização ou re-utilização para ensino, aprendizagem e investigação".

Ainda segundo a OCDE, estes recursos podem ser de três tipos:

  • Conteúdos de aprendizagem: cursos completos, módulos, jornais, etc;
  • Software de suporte ao desenvolvimento, utilização, reutilização e distribuição de conteúdos, como p. ex., content management systems, ferramentas de desenvolvimento de conteúdos e comunidades de aprendizagem online;
  • Recursos de implementação, tais como formas de licenciamento para a distribuição "aberta" de conteúdos, definição de boas práticas e adaptação dos conteúdos a diferentes ambientes.


A utilização dos OERs pode vir a configurar uma mudança de paradigma na forma de ensinar e aprender, semelhante à que aconteceu com o movimento de Open Source Software (OSS), em que:

  • Os recursos são produzidos de forma colaborativa, por grupos de indivíduos dispersos globalmente;
  • Os produtores também são consumidores dos seus (e de outros) produtos;
  • Os produtos podem ser downloaded gratuitamente;
  • O código é disponibilizado, pelo que o software pode ser adaptado com a condição, exigível pela maior parte das licenças, de ser devolvido à comunidade.

Esta mudança de paradigma, no que respeita aos OERs, tem não apenas a ver com o acesso gratuito aos recursos, independentemente da localização geográfica, mas também, e sobretudo, com o desenvolvimento desses recursos através da colaboração de professores e alunos distribuidos globalmente.

Potencialidades

A utilização de OERs, à imagem do que acontece com o OSS, possibilita designadamente:

  • A "democratização" da aprendizagem, disponibilizando recursos educacionais de qualidade a todos os interessados, independentemente da sua localização geográfica, posição social ou nível etário;

  • A produção em colaboração dos recursos educacionais por professores e alunos dispersos geograficamente, bem a sua "localização" e adaptação a contextos específicos (p.ex. tradução). Esta forma de produção e análise crítica facilita a melhoria da qualidade dos OERs, relativamente à produção tradicional de recursos educacionais;

  • A redução drástica dos respectivos custos, que serão, em princípio, distribuídos pelos múltiplos actores. Voltaremos a esta questão dos custos quando tratarmos da sustentabilidade dos OERs.

Oportunidades

  • Acesso livre a recursos informacionais por professores e estudantes, distribuidos globalmente;
  • Possibilidade de cooperar e colaborar, de forma global, com outros professores e alunos, o que facilita a aprendizagem dos vários actores, bem como a disponibilização de recursos de qualidade superior. Criação de uma cultura de melhoria contínua que tenderá a facilitar novas formas de aprender e ensinar;
  • Possibilidade de aprendizagem personalizada ao longo da vida;
  • Existência do OpenCourseWare Consortium cuja missão é definida como "to advance education and empower people worldwide through opencourseware" e que junta actualmente mais de 200 Universidades de todo o mundo (Portugal não incluido...).

Riscos

  • Falta de políticas institucionais que incentivem os professores a colaborar com o movimento OER;
  • Falta de certificação da qualidade dos OERs disponibilizados globalmente;
  • Falta de recursos financeiros.

Desafios

  • Propriedade intelectual e formas de licenciamento - Os aspectos relativos à propriedade intelectual estão no centro do movimento OER. É sugerido que estes aspectos "são a causa principal do lento desenvolvimento do movimento". Apesar disso, estão já disponíveis duas formas de licenciamento: Creative Commons Licence e GNU Free Documentation Licence;
  • Certificação e melhoria da qualidade - Têm sido utilizados várias aproximações para a certificação da qualidade: 1) pela Instituição que disponibiliza o recurso; 2) através de peer review, que é o processo normalmente utilizado pela academia; 3) open users review approach, em que a certificação é bottom-up e efectuada, de várias formas, pelos utilizadores;
  • Interoperacionalidade, através da utilização de normas "abertas" , permitindo a comunicação entre sistemas, aplicações e redes heterogéneas. Existem já normas e especificações, tais como a IMS e a SCORM que facilitam a interoperacionalidade, acessibilidade e reutilização de conteúdos educacionais web based;
  • Sustentabilidade das iniciativas de OER - Segundo a OCDE a sustentabilidade do movimento OER deve ser analisada de duas formas: sustentabilidade da produção e da partilha de recursos. Quanto à sustentabilidade da produção têm sido utilizadas múltiplas formas de financiamento, que vão desde o recurso a donativos, quotização dos membros, financiamento institucional ou governamental, etc.
  • Novas formas de certificação dos estudantes - segundo Ilkka Tuomi (2006) os recursos abertos de nível II devem permitir aos seus utilizadores a obtenção dos respectivos certificados formais de habilitação.

E Para Terminar...

  • Modelos de Negócio à volta dos OER - Face à disponibilidade, de forma gratuita, dos OERs é de considerar, a médio prazo, a hipótese de um número significativo de alunos optar por um modelo de auto-aprendizagem, que terá como consequência a dimuição do número de inscrições nas Universidades, com a consequente dimuição do financiamento. É nosso entendimento que há que encontrar modelos de negócio que, mantendo o acesso livre aos recursos (como acontece com o OSS), permitam às Universidades a obtenção de recursos financeiros gerados à volta dos OER;
  • No caso do OSS, que se mantêm completamente livres e gratuitos, continuam a ser gerados modelos de negócio relacionados com a respectiva instalação, parametrização, adaptação do código e migração de dados, só para citar alguns. Desta forma as Organizações podem optar pelo modelo Do-It-Yourself ou recorrerem a empresas de consultoria para colocarem o software em produção;
  • O tempo não nos permitiu nem a pesquisa bibliográfica, nem a reflexão sobre esta temática que reputamos de muito importante na sustentabilidade do movimento OER.