A designação Open Educational Resources (OER) foi adoptada numa reunião da UNESCO em 2002 para designar a disponibilidade de recursos educacionais "abertos", permitida pelas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), para consulta, utilização e adaptação pela comunidade de utilizadores, para objectivos não comerciais.
The Open Courseware concept is based on the philosophical view of knowledge as a collective social product and so it is also desirable to make it a social property. - V. S. Prasad, Vice-Chancellor - Dr. B. R. Ambedkar Open University, India
Mais recentemente a OCDE definiu os OER como "produtos digitalizados oferecidos de uma forma livre e aberta a professores, estudantes e autodidactas para utilização ou re-utilização para ensino, aprendizagem e investigação".
Ainda segundo a OCDE, estes recursos podem ser de três tipos:
- Conteúdos de aprendizagem: cursos completos, módulos, jornais, etc;
- Software de suporte ao desenvolvimento, utilização, reutilização e distribuição de conteúdos, como p. ex., content management systems, ferramentas de desenvolvimento de conteúdos e comunidades de aprendizagem online;
- Recursos de implementação, tais como formas de licenciamento para a distribuição "aberta" de conteúdos, definição de boas práticas e adaptação dos conteúdos a diferentes ambientes.
A utilização dos OERs pode vir a configurar uma mudança de paradigma na forma de ensinar e aprender, semelhante à que aconteceu com o movimento de Open Source Software (OSS), em que:
- Os recursos são produzidos de forma colaborativa, por grupos de indivíduos dispersos globalmente;
- Os produtores também são consumidores dos seus (e de outros) produtos;
- Os produtos podem ser downloaded gratuitamente;
- O código é disponibilizado, pelo que o software pode ser adaptado com a condição, exigível pela maior parte das licenças, de ser devolvido à comunidade.
Esta mudança de paradigma, no que respeita aos OERs, tem não apenas a ver com o acesso gratuito aos recursos, independentemente da localização geográfica, mas também, e sobretudo, com o desenvolvimento desses recursos através da colaboração de professores e alunos distribuidos globalmente.
Potencialidades
A utilização de OERs, à imagem do que acontece com o OSS, possibilita designadamente:
- A "democratização" da aprendizagem, disponibilizando recursos educacionais de qualidade a todos os interessados, independentemente da sua localização geográfica, posição social ou nível etário;
- A produção em colaboração dos recursos educacionais por professores e alunos dispersos geograficamente, bem a sua "localização" e adaptação a contextos específicos (p.ex. tradução). Esta forma de produção e análise crítica facilita a melhoria da qualidade dos OERs, relativamente à produção tradicional de recursos educacionais;
- A redução drástica dos respectivos custos, que serão, em princípio, distribuídos pelos múltiplos actores. Voltaremos a esta questão dos custos quando tratarmos da sustentabilidade dos OERs.
Oportunidades
- Acesso livre a recursos informacionais por professores e estudantes, distribuidos globalmente;
- Possibilidade de cooperar e colaborar, de forma global, com outros professores e alunos, o que facilita a aprendizagem dos vários actores, bem como a disponibilização de recursos de qualidade superior. Criação de uma cultura de melhoria contínua que tenderá a facilitar novas formas de aprender e ensinar;
- Possibilidade de aprendizagem personalizada ao longo da vida;
- Existência do OpenCourseWare Consortium cuja missão é definida como "to advance education and empower people worldwide through opencourseware" e que junta actualmente mais de 200 Universidades de todo o mundo (Portugal não incluido...).
Riscos
- Falta de políticas institucionais que incentivem os professores a colaborar com o movimento OER;
- Falta de certificação da qualidade dos OERs disponibilizados globalmente;
- Falta de recursos financeiros.
Desafios
- Propriedade intelectual e formas de licenciamento - Os aspectos relativos à propriedade intelectual estão no centro do movimento OER. É sugerido que estes aspectos "são a causa principal do lento desenvolvimento do movimento". Apesar disso, estão já disponíveis duas formas de licenciamento: Creative Commons Licence e GNU Free Documentation Licence;
- Certificação e melhoria da qualidade - Têm sido utilizados várias aproximações para a certificação da qualidade: 1) pela Instituição que disponibiliza o recurso; 2) através de peer review, que é o processo normalmente utilizado pela academia; 3) open users review approach, em que a certificação é bottom-up e efectuada, de várias formas, pelos utilizadores;
- Interoperacionalidade, através da utilização de normas "abertas" , permitindo a comunicação entre sistemas, aplicações e redes heterogéneas. Existem já normas e especificações, tais como a IMS e a SCORM que facilitam a interoperacionalidade, acessibilidade e reutilização de conteúdos educacionais web based;
- Sustentabilidade das iniciativas de OER - Segundo a OCDE a sustentabilidade do movimento OER deve ser analisada de duas formas: sustentabilidade da produção e da partilha de recursos. Quanto à sustentabilidade da produção têm sido utilizadas múltiplas formas de financiamento, que vão desde o recurso a donativos, quotização dos membros, financiamento institucional ou governamental, etc.
- Novas formas de certificação dos estudantes - segundo Ilkka Tuomi (2006) os recursos abertos de nível II devem permitir aos seus utilizadores a obtenção dos respectivos certificados formais de habilitação.
E Para Terminar...
- Modelos de Negócio à volta dos OER - Face à disponibilidade, de forma gratuita, dos OERs é de considerar, a médio prazo, a hipótese de um número significativo de alunos optar por um modelo de auto-aprendizagem, que terá como consequência a dimuição do número de inscrições nas Universidades, com a consequente dimuição do financiamento. É nosso entendimento que há que encontrar modelos de negócio que, mantendo o acesso livre aos recursos (como acontece com o OSS), permitam às Universidades a obtenção de recursos financeiros gerados à volta dos OER;
- No caso do OSS, que se mantêm completamente livres e gratuitos, continuam a ser gerados modelos de negócio relacionados com a respectiva instalação, parametrização, adaptação do código e migração de dados, só para citar alguns. Desta forma as Organizações podem optar pelo modelo Do-It-Yourself ou recorrerem a empresas de consultoria para colocarem o software em produção;
- O tempo não nos permitiu nem a pesquisa bibliográfica, nem a reflexão sobre esta temática que reputamos de muito importante na sustentabilidade do movimento OER.
Olá Ana,
ResponderEliminarApesar de anunciar que está "em obras" no início do seu post, quero dizer-lhe que gostei da sua forma de sintetizar ponto por ponto as questões que me parecem cruciais, sobretudo as que aponta no capítulo dos desafios :-).
Isabel Neto
Olá, Isabel,
ResponderEliminarComo sou despassarada, enviei por email a resposta à sua simpática mensagem, que agradeço.
Recebeu?
Olá Ana
ResponderEliminarUma análise muito exaustiva...
Para mim, o ponto crucial vem a ser sempre o primeiro dos riscos que assinalaste:
"Falta de políticas institucionais que incentivem os professores a colaborar com o movimento OER;"
mas eu generalizava:
Falta de políticas institucionais que incentivem os professores "a serem professores". O resto viria por acréscimo...
Sds.
João V.
Tens toda a razão, João.
ResponderEliminarAna